terça-feira, 30 de agosto de 2011

100% intolerante

Eu sou intolerante. E não escondo isso de ninguém. Acho que sou assim desde pequeno, sempre tive todos os indícios. Mas só assumi lá pelos meus 25 anos. Não precisa ficar preocupado: estou falando da intolerância à lactose, aquela dificuldade chata em consumir leite e derivados.

Descobri isso já adulto. Tinha dores de estômago, tomava leite para melhorar, e só piorava. E ainda vinham outras coisas, meio desagradáveis de contar aqui. Até que um dia, ao fazer uma reportagem sobre a intolerância, me deparei com uma médica que descreveu, na minha frente, todos os sintomas que eu sentia.

Parei de tomar leite, e minha vida mudou. Por isso, digo com orgulho: sou 100% intolerante. Eu e uma amiga, que também é, até pensamos em fazer camisetas com esta frase, só pra ver a cara de assustado do povo. Cara que deve se assemelhar com a que sempre me deparo em restaurantes, quando pergunto se há leite ou derivado na comida.

Parece simples saber se uma receita leva os ingredientes, mas, acredite, é uma tarefa árdua. Uma vez, ao perguntar se um pão de batata tinha recheio de queijo, ouvi um inesperado não. Aí questionei: do que é o recheio? "De catupiry", respondeu a atendente. Oras, e o que é o catupiry?

Pior são as pessoas que me vêem como um ser estranho. Aí, já tenho o discurso pronto. "Eu não sou estranho, você que é um mutante." E faz sentido! Porque, originalmente, o homem foi "criado" para consumir leite até os 4 ou 5 anos de idade. Mas, em algum momento, milênios atrás, uma mutação genética fez algumas pessoas desenvolverem a capacidade de ingerir lacticínios por toda a vida. Ou seja, se eu não tenho tal mutação, não sou um mutante!

Enfim, mutações à parte, a vida sem leite não é de todo ruim. Posso até consumir alguns derivados. E quando quero tomar um sorvete, ou algo maior, recorro a um comprimido de lactase -- enzima que produzo em pouca quantidade e que digere o açúcar do leite, a lactose. É praticamente o viagra da digestão: você toma e pode comer o que quiser!

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Bilhete único mundo afora


Hoje zerei meu bilhete único. Fui almoçar no Mercado Municipal de São Paulo com uns amigos. Eles, de carro. Eu, de metrô. E zerei meu bilhete único.

Tenho de admitir: gosto de transporte público, principalmente do metrô. Lembro quando era criança, e foi feita a extensão da linha 3 (na época apenas linha Vermelha) até Itaquera (na época já Corinthians, apesar de não ter sinais de um estádio por lá). Fiz um "passeio" com meu pai até a última estação, apenas para conhecê-la, um programa que encantava os meus olhos.

E este programa me acompanha desde então, com algumas adaptações. Agora, quando viajo para uma cidade que tem metrô, faço de tudo para andar nele. Cada um tem sua particularidade, sua marca registrada.

Em Madri (foto), algumas estações são tão próximas que é possível, da plataforma de uma, ver a seguinte. E, dentro do vagão, uma voz anuncia: "Atencion, estacion en curva. Al salir, tiene cuidado para no introducir el pié entre coche y andén." Sim, eles se preocupam com os nossos pés!

No Porto, em Portugal, não há catracas. É preciso validar o bilhete em uma máquina antes de entrar, na base da confiança mesmo, algo que nunca daria certo por aqui. Até há ávisos de fiscalização nos vagões. No que eu estava, entraram dois fiscais, mas nada de me pedirem o bilhete.

Mesmo quem nunca esteve no metrô de Roma dificilmente vai se sentir desorientado. Não porque as duas linhas sejam pequenas. Mas os avisos deixam seguro até o mais atrapalhado dos turistas (adianto que não é o meu caso!). Dentro dos vagões, naquele mapa de estações em cima da porta, uma linha vermelha mostra de que lado o passageiro deve desembarcar. Não é preciso esperar uma voz do além nos alertar.

Na capital dos EUA, a curiosidade está no preço da passagem. Em Washington D.C. cobra-se por distância percorrida. Ao comprar o bilhete, é preciso fazer um cálculo do trajeto, para pagar o valor exato - ou um pouco mais, com direito a ficar com o restante de crédito. Na estação em que for descer, antes de sair do metrô, basta passar novamente o bilhete, para aí sim ser debitado o valor.

Agora, no quesito surrealismo, ganha disparado o metrô de Buenos Aires. Trata-se de um dos mais antigos do mundo, de 1913. E basta uma volta nele para ver que a antiguidade continua presente. A impressão que eu tive ao andar na linha A é de que tinha voltado aos tempos do bonde. Todo o vagão é de madeira. A iluminação, precária, vem de lustres no teto, como o daqueles casarões paulistanos do início do século passado. As portas são abertas pelos próprios passageiros, ou seja, antes mesmo de o trem parar, já há pessoas subindo e descendo. A única vantagem é o preço: cerca de cinquenta centavos de real. Nem preciso dizer que zerei meu "bilhete único" muitas vezes em Buenos Aires...

domingo, 21 de agosto de 2011

As fantasias da rua Augusta

O último texto foi embalado por Noel Rosa. Hoje, vou avançar um pouco - mas nem tanto - no tempo. Vamos à Jovem Guarda, com o hit Rua Augusta. Por quê? Bem, foi lá, nesta famosa rua paulistana, a tal festa à fantasia.

Primeiro, façamos um parênteses: entrar na Augusta a 120 por hora é simplesmente impossível. Nem a 1/4 disso! Sexta-feira à noite, tudo parado. Foi assim, a passos lerdos, que cheguei ao local da festa, no chamado Baixa Augusta, trecho bem pertinho do centrão.

A fantasia foi uma escolha coletiva. Eu e meus amigos decidimos ir de preto, com aquelas máscaras de baile de carnaval. Pelo menos, se ninguém mais estivesse fantasiado, era só jogar a máscara em uma lata de lixo!

Fui o 1o do grupo a chegar. Esperei os outros a uns 50 metros da entrada, ao lado de mulheres fantasiadas com saias curtíssimas, silicone à mostra, muita maquiagem... pois é, eram garotas de família, primas ou moças de vida fácil, como vocês preferirem. Nesse sentido, nada mudou na Augusta.

Logo duas amigas chegaram, e continuamos lá, esperando. Uma delas estava com paetês e não demorou para ocorrer o que já era previsto: buzinadas, olhares curiosos... a nossa popularidade foi a mil por hora!

Mais uns minutos, um carro começou a fazer baliza na nossa frente. Três tentativas depois, conseguiu entrar na vaga. Um palmo da janela se abriu, uma filmadora deu as caras, gravou cerca de 5 minutos do movimento no local (nós inclusos), se escondeu novamente e subiu a rua Augusta.

Mais uns minutos, entramos na festa. Mas uma dúvida permaneceu: quem era o louco da filmadora? "Só falta aparecermos em uma reportagem na TV ilustrando os tipos estranhos que andam no centro da cidade", disse uma amiga. Isso não seria tão ruim. Pior mesmo é se um dia vocês virem meu rosto ilustrando uma matéria sobre prostituição no centro da cidade. Mas, como diz a música, "quem é da nossa gangue não tem medo..."

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Com que roupa?

Festa à vista, com a temática anos 90. Algo interessante, que foge daquele lugar comum de reviver os anos 80, seja no rock ou no brega. Só que esta festa tem um diferencial -- é à fantasia.

Tudo bem, os adereços ajudam a dar um ar descontraído e irreverente à balada. O problema é: com que roupa eu vou? Sempre que recebo um convite desses, passo dias com o mesmo dilema. E, óbvio, só me decido horas antes de sair de casa. E, mais óbvio ainda, só me fantasio minutos antes de entrar no local.

Uma vez fui vestido de policial militar. Já pensou se passo por uma blitz no meio do caminho? Até explicar que minha intenção era ir a uma inocente festa... Fora o medo de chegar lá e ser o único fantasiado! Por isso, é preciso seguir um ritual: primeiro passar de carro em frente ao local, ver como as pessoas estão, e aí sim se caracterizar.

Para esta festa de agora, fui informado que é preciso entrar no clima dos anos 90, o que dificulta -- e muito -- a escolha. "Vou com o uniforme da seleção de 94", disse um amigo. Boa ideia! Mas, confesso que sair de casa de shorts e chuteira não me agrada muito.

Já sei! Se é pra voltar àquela década, por que não colocar o antigo uniforme do colégio, óculos, aparelho nos dentes e espinhas na cara? Só assim pra me sentir totalmente nos anos da minha adolescência... Aí, confesso de novo, esta ideia não me agrada mesmo!

Feliz era Noel Rosa, que só tinha o trabalho de escolher uma roupa para um samba!

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Síndrome de quê?

Sábado à noite, restaurante mexicano. Boa comida, ótimas risadas. Foi quando, entre um taco e outro, minha amiga soltou a seguinte frase: "Eu tenho Síndrome de Pica". O sobe som não passou despercebido por ninguém da mesa. Olhares de espanto, risos contidos... o que fazer? Chegar mais perto, para consolá-la?

Logo pus a mão no bolso! Calma, foi para pegar meu celular e fazer uma busca rápida no google. Lá estava, em diversos sites: Síndrome de Pica (ou simplesmente Pica) - transtorno alimentar que faz a pessoa ter desejo incontrolável de comer coisas não comestíveis. Mais ou menos a história de mulheres grávidas que se deliciam com tijolos.

A Pica é descrita desde a antiguidade., mas ganhou este nome no século XVI. O termo vem do latim, e designa um pássaro que, assim como a minha amiga, come de tudo o que vê pela frente.

Ok, o caso dela não chega este ponto. A síndrome apareceu na infância, com um punhado de terra do quintal de casa, e não atrapalha sua vida nem de a quem está em volta. Tanto que ela fala sobre isso abertamente. Diz, sem medo de ferir a moral e os bons costumes "Eu tenho Síndrome de Pica".

Mesmo assim é bom tomar cuidado, porque nem todos são como a minha amiga. Vai que você encontra uma pessoa na rua, com algum objeto estranho na boca, e resolve perguntar: Ei, você tem Pica?". Se ela for grossa, não vá dizer que não avisei...

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Tal filho, tal pai?

Hoje fui buscar meu sobrinho de 4 anos na escola. Domingo é dia dos Pais, logo, lá estava ele com o presente feito em sala de aula, pro meu cunhado. E lá estava uma professora, que ao me ver falou: "Entrega o presente pro papai". Meu sobrinho ficou olhando, outras duas professoras correram para avisá-la que eu não era o pai, e sim o tio e padrinho. Eu apenas ri.

Não é a primeira vez que isso acontece. Meu sobrinho mais velho (e também afilhado) tinha uma professora do maternal que teimava que eu era o pai dele. Sempre que ia buscá-lo, ouvia um "Olha, o papai veio te pegar". No começo eu ainda corrigia, depois, desisti.

Alguns anos depois, eis que minha sobrinha foi aluna dela. E novamente, pelo menos uma vez por semana, quando ia buscá-la na escola, a tal professora também soltava um "O papai que veio hoje". Inútil tentar ensiná-la.

Não me incomodo com isso, acho até engraçado. Antes, quando era mais novo, sempre tinha alguém que achava que eu era filho das minhas irmãs. Depois, quando cresci, passaram me confundir com o marido delas. Só espero que não chegue o dia em que eu passe a ser o pai das duas, e, consequentemente, avô dos meus sobrinhos. Afinal, pai, tudo bem, mas avô, já é demais!

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

São Paulo Fashion Thief

Mais um assalto a restaurante em São Paulo. Desta vez, no bairro nobre do Morumbi. A reportagem do jornal diz que "para a polícia, o arrastão é o crime da moda" na cidade. O mesmo jornal noticia outro arrastão, desta vez de meninas menores de 12 anos, na Vila Mariana. Ou seja, a moda dos criminosos também tem um segmento infantil. Em uma cidade como esta, todos seguem tendências.

Interessante notar como esta moda dos criminosos tem uma grande capacidade de, digamos, se reinventar. Nos tempos do bonde, já eram famosos os batedores de carteiras. Nada de trombadinhas, homens mesmos, na elegância de ternos, furtavam o dinheiro dos demais passageiros, sem deixar vestígios Estilo que, com o passar dos anos, se transformou em furtos nos vagões de metrô, sem falar nos arrastões - sempre eles - nos ônibus.

E para ser um típico paulistano, é preciso estar na moda, claro. Ou, neste caso, se adaptar a ela. Semana passada, fui jantar com uma amiga em um restaurante nos Jardins. Descobri, durante a noite, como ela escolheu o lugar. Na frente do estabeleciemento é proibido parar carros, não há como, o que diminui a chance de uma fuga rápida para os criminosos. A porta do restaurante é grande, pesada, e se manteve fechada -- outra dificuldade. Por último, sentamos no mezanino, um lugar estratégico que nos permitia observar o movimento do restaurante.

Ficamos seguros? Óbvio que não. Apenas seguimos tendências. E como no mundo fashion tudo não dura mais do que duas estações, imagino se já há alguém criando a nova moda Primavera-Verão...

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

São Paulo dos Mil Cheiros


Estava aqui pensando nas coisas que sentirei falta de São Paulo, e logo me surgiram eles: os cheiros. Não tem como negar que esta é uma cidade altamente olfativa, em todos os aspectos. Basta uma simples caminhada para se deparar com uma infinidade de odores, de deixar qualquer nariz confuso. E mais desnorteado ainda aqueles narizes que sofrem com a poluição paulistana.

Para que tem uma memória olfativa forte - como é o meu caso - a capital paulista nos apresenta diversos desafios. Há os odores indecifráveis (muitas vezes porque preferimos não decifrá-los) do vagão lotado do metrô no horário de pico. O aroma de boas-vindas com que o rio Tietê recepciona os nossos turistas. As partículas da fumaça dos mais diversos tons de cinza e preto do congestionamento, que insistem em grudar nas narinas. O peixe do pós-feira, impregnado no asfalto.

Mas há também outros, estes sim agradáveis. O perfume da nossa culinária - que aliás nem nossa é, e sim de todo o mundo. A fragrância das damas-da-noite , não aquelas que perambulam pela rua Augusta, mas sim a flor, que de vez em quando nos surpreende em algumas alamedas. Ou simplesmente o cheiro do mato molhado, num dia de verão, nos pedaços que restaram da Mata Atlântica - seja no meio da avenida Paulista ou na Serra da Cantareira.

Sim, São Paulo é uma cidade de mil cheiros. E dentre eles, há um que me intriga. Quem passa pela marginal Tietê, sentido Catello Branco, sabe que, em alguns horários, um forte cheiro de alho toma conta do ambiente. É apenas um dos mistérios desta megalópole...

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Benditos pôneis, baratas e afins

Confesso: não resisti à repercussão do vídeo dos "Pôneis Malditos", e fui procurá-lo no youtube. Óbvio que eu peguei a "maldição do pônei", o que me deixa de um certo modo contente.

Enfrento, desde criança, diversas outras "maldições", digamos assim. Aqueles jingles que não saem da mente, aparecem no meio de uma prova, logo cedo ao acordarmos, durante a missa ou qualquer outro momento solene. E eu acho isso bom.

Até hoje, ao me lembrar da música da liquidação do Mappin, parece que estou novamente com 10 anos de idade, preparando a mochila para o primeiro dia de aula. Assim como revivo os meses de julho da minha infância em que o frio, por mais que batesse na porta, era impedido de entrar em casa, por causa das Casas Pernambucanas.

Mas tem um jingle que é o campeão. Que foi capaz de transformar as mais horríveis e nojentas criaturas, que assustam crianças, jovens e aldultos, em insetos doces, inofensíveis. Como não se recordar das pulguinhas dançando iê-iê-iê, ou do pernilongo mordendo o nenê, da propaganda do Dddrin Os passeios da barata pela casa podem até ter tido um fim, mas a música deles na minha mente, não. Por isso, espero que, daqui a alguns anos, a canção dos pôneis continue lá, guardada em algum lugar, me trazendo boas recordações. Bendita maldição!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Duas histórias, um sentimento

Um, dois, três corpos, ali, na minha frente, sendo retirados de uma represa. Pai e filhas mortos afogados, durante um passeio de férias. Eu, com um misto de tristeza e constrangimento, tentava tirar alguma palavra da viúva para a reportagem. Mais me desculpava por estar lá em um momento tão difícil do que fazia alguma pergunta.
A cena aconteceu quando cobria férias em uma afiliada da TV Globo em São Paulo, e serve para mostrar esta ebulição de sentimentos que ocorre na rotina jornalística. Sim, jornalista tem sentimento (por mais que, muitas vezes, pareça o contrário). Deve ter, e deve mostrá-lo! É com sentimento que fazemos nossas matérias, que construímos e narramos textos. Contamos histórias sobre pessoas para outras pessoas.
Um exemplo disso é o programa Aconteceu, que vai ser exibido hoje à noite, na RedeTV!. O tema: desenganados. Uma das histórias sou eu que conto. A saga dos pais que receberam a notícia de que o filho, portador de uma doença no coração, não teria muitos dias de vida. Não há como não se envolver com o relato, seja ao ver a mãe relembrar que chegou a desistir de lutar pelo filho, ou ao me deparar com os olhos do pai, cheios de lágrimas, um convite para que meus próprios olhos também ficassem marejados. Impossível não ter esta reação. Quando isto não ocorre, aí sim é sinal de que algo está errado.
Ao contrário da história da família da represa, a do garotinho tem um final feliz. Em comum, as duas têm uma coisa: sempre irão me emocionar!