segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Sobre o mal-estar de cada dia

Três e meia da manhã de uma sexta-feira, em Williamsburg, no Brooklyn. Saída da balada, lua brilhando num céu encoberto por nuvens, com uma fina garoa. Romantismo puro! Minha amiga se agachou na saída do bar, em silêncio, como se fosse apreciar o clima... só que colocou para fora toda a comida tailandesa do jantar.

"Vão pensar que eu bebi todas", disse. Realmente, àquela hora, naquele local, não haveria outra possibilidade. A mim, só restava perguntar se ela estava bem e oferecer um lenço de papel. Além de relembrar outras histórias parecidas.

A próxima cena ocorreu em uma reportagem que fiz quando ainda era foca. Ônibus lotado de estudantes de dez anos, indo para o cinema pela primeira vez. Janelas fechadas, ambiente abafado, e em quinze minutos já havia uma criança vomitando. Na sequência, outra avisa à professora que mais dois colegas estão em vias de repetir o gesto, quase num efeito dominó.

E é sempre assim que ocorre. Basta um começar e logo os outros se sentem mal. Por isso, a melhor opção é sempre se isolar, para não haver "contaminação". Foi o que fiz no mês passado, quando fui a vítima do mal-estar, em Caracas.

Havia jantado com uns amigos na noite anterior da posse presidencial. Nas últimas garfadas, notei que havia algo errado. E às quatro da manhã, meu estômago confirmou o pressentimento.  Lá fui eu conversar com o vaso sanitário. Tive tempo de observar as sujeiras que ficam fora do alcance da camareira e de pensar em alternativas para a minha cobertura para dali a algumas horas. Afinal, nada pode ser considerado tempo perdido!

E para encerrar o texto, antes que você, leitor, entre neste "efeito dominó", uma história ocorrida há algumas semanas, de uma outra amiga que também passou mal no final da balada - mas, esta sim, porque havia bebido todas.

Entre uma cantoria e outra no karaokê, ela se isolou no banheiro para "limpar" o estômago. E meu amigo, que estava de olho nela, ao saber do que ocorria, logo desistiu de tomar qualquer iniciativa. Afinal, há coisas que nem o romantismo da lua e nem um halls extra-forte resolvem...