segunda-feira, 13 de maio de 2013

Sobre antibióticos e testes de inglês

A pizza daquela noite ficou conversando comigo durante toda a madrugada. E no dia seguinte, ainda estava lá, espalhada pelo meu sistema digestivo. Dores fortes, entre outros sintomas, me obrigaram a acionar o seguro internacional pela primeira vez. Liguei, e do outro lado, a atendente perguntou:

"Você poderia descrever o que está sentindo?"

Eu, em posição fetal, de tanta dor, deitado na cama, tive de descrever, em inglês, exatamente o que acontecia - tarefa fácil! E ela ainda questionava os mais diversos detalhes. Foram uns quinze minutos de conversa, antes de receber o endereço do ambulatório. Melhor do que qualquer teste para conseguir um certificado de proficiência da Universidade de Cambridge...

Enquanto me trocava, outra preocupação - sou alérgico a um antibiótico. E como tudo indicava que eu estava com infecção alimentar, o médico fatalmente me prescreveria um. E aí, qual o nome de tal medicamento?

Antes de me mudar para cá, minha prima-médica escreveu em um receituário o nome do princípio ativo. O problema é que eu não lembrava onde estava o papel. E não é muito fácil fazer buscas pela casa estando em posição fetal - por mais que eu more em um micro-estúdio.

Armário aberto; roupas, documentos e papéis no chão; estômago e intestino doendo; tempo passando, e nada de encontrá-lo. Eis que me lembro do contexto em que ele foi escrito. 06/09/2011, 24 horas antes da mudança, minhas duas primas foram em casa se despedir de mim. Pedi à doutora uma receita com os remédios que ia levar, para não ter problemas na alfândega. E ela me sugeriu fazer uma outra com o tal antibiótico.

No papel, o nome do medicamento tinha letras garrafais. Peguei a folha na mão, e brincamos - "se eu passar mal, sem conseguir falar, tiro o papel do bolso e mostro pra alguém". Aí uma delas comentou - "e se pensarem que é pra te dar este remédio, em vez de não te dar?" Caímos na risada, com elas imaginando o primo tendo uma terrível reação alérgica - humor negro total!

Voltando ao meu apartamento, lá estava eu no chão, em posição fetal, com dor, agora rindo da história do remédio - ou seja, contraindo ainda mais a barriga e piorando a cólica. Mas pelo menos lembrei: "Sulfa! No sulfa! For God sake, no sulfa!"

O nome agora está gravado na memória, e foi útil nas outras duas vezes em que fui ao médico aqui. Assim como a maneira de descrever o que sinto, em inglês fluente. E fica a dica para os professores de idioma no Brasil: da próxima vez que algum aluno tentar faltar na prova, dizendo que está doente, não deixe. Aplique o teste nas piores condições, um dia ele irá agradecê-lo!

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Aquela piscadinha

A brincadeira é simples. Primeiro, é feito um sorteio, com papéis, para ver quem vai ser o detetive, o assasino e as vítimas. Aí, sentados em círculo, o objetivo do assassino é matar as vítimas sem ser descoberto. A "arma" dele: piscar o olho.

Sempre brincava disso quando criança, e sempre ficava tenso na hora do sorteio. Não queria ser o assassino, de jeito nenhum! Não por motivos nobres ou humanitários, mas por outro - não consigo piscar com um olho só.

Parece ridículo, mas é a mais pura verdade. E, depois de anos, o assunto voltou à tona na última semana, em um bar, aqui em Nova York. Contava para uma amiga sobre a cirurgia de miopia que fiz, em apenas um olho. Ou seja, ainda sou míope no lado esquerdo. Aí, ela, que também é míope, disse que se fosse operar uma vista só, teria de ser a direita, já que só consegue piscar do outro lado. Foi quando confessei que não pisco de lado algum!

Uma outra amiga, aniversariante do dia, que ouvia a história, se juntou à conversa, e as duas questionaram como eu fazia para paquerar, já que meus músculos ao redor dos olhos, obviamente, não funcionam como deveriam. Silêncio constrangedor... Minha humilhação ficou ainda maior quando um amigo - que, segundo as duas, "transpira testosterona" - se aproximou e demonstrou a facilidade que tem em piscar um olho de cada vez, quantas vezes quisesse.

E não parou por aí! Para acabar totalmente com a minha auto-estima, a amiga míope soltou a seguinte pérola: "Ele não deve piscar por causa de tanto botox que tem no rosto, esse povo da TV usa botox em tudo, paralisa os músculos."

Não, antes que você me pergunte, eu não uso nem nunca usei botox. E, a partir de hoje, não irei dizer que não sei piscar. Falarei apenas que não o faço por motivos nobres e humanitários - e explicarei a brincadeira do detetive. Afinal, se a piscadinha pode ser usada como uma arma letal em um jogo infantil, melhor não estimulá-la!