A
neurose tinha um motivo. Antes de me mudar para cá, entre tantos
conselhos recebidos, o de um amigo ficou na minha mente: "Toma cuidado com os bed bugs (percevejos), a cidade é infestada deles".
Foi o suficiente para o jornalista aqui fazer uma pesquisa sobre o tema.
Realmente,
era assustador. Existe até um site com um mapa mostrando prédios e
apartamentos onde já houve infestação, além de estatística dos bairros
mais "perigosos", fotos de impacto e relatos minuciosos. Resultado: estava instalada a paranoia.
A
minha noite parecia inspirada na música "A Festa dos Insetos", cujos
versos dizem "torce, retorce, procuro mas não vejo. Não sei se era a
pulga ou se era o percevejo". Procurei e não encontrei nada, mas claro
que passei o dia seguinte me coçando. Comprei um inseticida específico
para o problema. Borrifei no apartamento inteiro. E só fui me convencer
de que tudo não passava de paranoia depois de uma semana.
Aprendi
a lição? Óbvio que não. Semana passada, percebi duas picadas no meu
corpo. E novamente pensei neles, os bed bugs. Tirei o colchão do lugar,
troquei a roupa de cama, passei aspirador em todos os cantos, quase
fiquei sufocado de tanto inseticida. Fiz nova busca na internet, e
encontrei os mesmos resultados assustadores. Liguei para o Brasil, e
compartilhei minha suspeita com minha mãe e minha irmã (família unida,
paranoia unida).
Elas tentaram me acalmar, mas
só fui sossegar mesmo depois de conversar com uma amiga, também meio
neurótica, e que já teve problemas com percevejos. "As picadas estão
perto uma da outra?" Não, uma era no lado esquerdo do peito, a outra, no
cotovelo direito. "Foram no mesmo dia?" Não, tinham uma semana de
distância. "Não deve ser bed bug, mas dorme mais dois dias na cama pra
ter certeza. Se não for picado, está tudo ok."
Agora,
quatro dias depois (óbvio que iria esperar mais do que o recomendado),
posso voltar a dormir tranquilo. Sei que na minha casa eles não estão.
Mas não paro de pensar que os temidos insetos continuam lá fora,
espalhados pela cidade. Na companhia de ratos! Ah, os ratos... Bem, essa
paranoia é assunto para outro texto.