quarta-feira, 18 de abril de 2012

Do desespero à alegria em poucas estações

Desesperada, a mulher passava o cartão pelo leitor, e a catraca continuava imóvel. Nova tentativa, e  nada. O metrô já estava quase fechando as portas, e ela gritava para alguém esperá-la. Finalmente, conseguiu passar, e correu para dentro do vagão. Sentou-se na minha frente. Não havia ninguém a sua espera.

A senhora devia ter cerca de 50 anos. Cabelos loiros, compridos. Usava um casaco pesado de inverno por cima de uma saia e uma camisa. No colo, uma bolsa, bem grande. Ela abriu a bolsa, tirou um iogurte, colocou-o no banco ao lado e disse para ele: "Fique aí". De lá também saíram um sanduíche, que ficou quietinho ao lado do iogurte, e uma escova de cabelo.

Agora de pé, ela se posicionou na frente do vidro, tirou o casaco, e também deu ordens para ele não sair do lugar. Jogou os cabelos para a frente, para trás… Pegou a escova e começou a pentear o cabelo. "Assim está melhor", comentou consigo mesma. Pôs novamente o casaco e sentou-se.

O sanduíche e o iogurte, obedientes, passaram para as mãos dela, e de lá para a boca. A cada mordida em um, um gole no outro. Provavelmente, pelo horário, deveria ser o café da manhã. Entre três estações da linha verde do metrô de Nova York, os dois tiveram o destino que já era esperado.

As duas embalagens vazias foram para dentro de um saco de papel. A senhora olhou para os dois lados, amassou bem o lixo e o jogou embaixo do banco. O desespero inicial, de quando a vi na catraca, agora dava lugar a uma tranquilidade e a um semblante feliz… E foi assim que ela começou a cantar.

Minha estação chegou. Desci do vagão, dei três passos e virei para trás. Observei aquela cantoria, aquela felicidade inexplicável. As portas se fecharam, o trem ganhou velocidade, sumiu nos túneis escuros. E eu comecei a imaginar se um dia conseguirei ter uma alegria despreocupada como aquela.

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