quinta-feira, 13 de março de 2014

O instinto de sobrevivência de um repórter - ou a falta dele

"Ma. PelamordeDeus. Vc mora no Harlem?" Este foi o bom dia que recebi da minha editora nesta 4a-feira, pelo whatsapp. Antes de pedir para eu fazer a reportagem, ela queria saber se estava vivo.

Sempre digo que repórter não bate muito bem da cabeça. O nosso instinto de sobrevivência funciona de maneira diferente das pessoas "normais". Não corremos dos perigos, e sim em direção a eles.

Lembro da época da faculdade. Uma vez, houve uma ameaça de bomba no prédio principal. Enquanto ele era evacuado, meus amigos e eu corremos até lá com gravadores e blocos na mão para vermos o que estava acontecendo. (No final, era só uma lata de achocolatado com areia dentro)

Em quase quinze anos de profissão, já estive em algumas situações arriscadas. Desde entrar em favelas em São Paulo, sendo observado por traficantes, passando por deslizamentos no Rio de Janeiro, manifestações na Venezuela e no Equador e ameaças de grileiros no Pará. Mas sempre só percebo o perigo depois de tudo ter terminado.

E às vezes fico sem perceber mesmo! No ano passado, fiz uma reportagem sobre criminalidade em Newark, Nova Jersey. Fui de trem, e carreguei a câmera no ombro da estação até a delegacia de polícia, uma distância de uns 15 quarteirões que percorri a pé. Claro, fui gravando no caminho, e recebi umas ameaças disfarçadas de pessoas não muito amigáveis. Quando contei isso ao delegado, só faltou ele me chamar de louco! E, duvidando da minha sanidade, fez questão de me escoltar durante o restante das gravações...

Por isso é bom receber palavras como esta, da minha editora. Um amigo daqui de Nova York também me recomendou ontem: "Não chegue muito perto dos prédios", e eu logo repliquei: "Difícil pedir isso para um repórter, mas farei o possível". Já que meu instinto de sobrevivência não funciona muito bem, nada melhor do que pegar o dos outros emprestado!

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