terça-feira, 15 de maio de 2012

Além do samba e do futebol


A sala de aula no Bronx estava agitada. Crianças de sete e oito anos, com o violino na mão, afinavam o instrumento para um último ensaio antes do concerto. Mas, quando eu entrei, todos pararam para me olhar. Talvez pela minha altura - que sempre causa nas pessoas uma espécie de espanto. Ou - o que é mais provável - pela câmera e pelo microfone que eu carregava. Só que os olhares se tornaram mais curiosos depois que a professora disse que eu era do Brasil.

Antes de vir morar nos Estados Unidos, pensava que os americanos tinham aquela imagem padrão do meu país - samba e futebol. Tudo bem que eles preferem o futebol deles, jogado com as mãos, e não curtem muito o samba. Mas, era essa a ideia que eu tinha - e que aos poucos foi sendo derrubada.

Estive em Boston para cobrir as primárias do partido Republicano, em março. Lá, conheci um americano que sabia mais do Brasil do que muito brasileiro. O senhor, de uns 70 anos, lembrava o nome de nossa presidente, e sabia que era a primeira mulher a assumir o cargo por lá. Também já havia estado no país algumas vezes, e não apenas para conhecer o Rio de Janeiro, um dos destinos preferidos dos gringos. Foi a Brasília, Amazonas, São Paulo, Minas Gerais… Admirável!

Mas, a experiência de agora, com as crianças, foi mais surpreendente. Lá estava eu, no meio de quinze alunos, quando a professora disse que era brasileiro. "O Brasil fica na América do Sul", disparou um. Abri um sorriso. "É no Rio de Janeiro que tem a estátua do Cristo Redentor", afirmou outro, fazendo meus dentes aparecerem um pouco mais. "Vocês falam português", emendou um terceiro. E eis que uma menina concluiu: "A capital é Brasília".

Nada de dizerem que falamos espanhol e que nossa capital é  Buenos Aires. Nada de mencionar o samba ou o futebol. Eles realmente sabiam de onde eu era. Eles realmente haviam estudado na escola sobre o meu país. Pude ver que aquela imagem-padrão que os americanos tinham de nós mudou. E o melhor - pude mudar de vez a imagem-padrão que eu tinha deles.

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