segunda-feira, 29 de julho de 2013

A Pulga, o Percevejo e a Paranoia

Aquela era a primeira noite na minha própria cama em Nova York. Havia ficado uma semana dormindo no chão, no apartamento recém-alugado, e agora, finalmente teria um pouco de conforto. Dormiria feito um bebê, certo? Errado! Passei longas horas acordando constantemente, usando meu celular como uma lanterna em busca deles, os temidos percevejos.

A neurose tinha um motivo. Antes de me mudar para cá, entre tantos conselhos recebidos, o de um amigo ficou na minha mente: "Toma cuidado com os bed bugs (percevejos), a cidade é infestada deles". Foi o suficiente para o jornalista aqui fazer uma pesquisa sobre o tema.

Realmente, era assustador. Existe até um site com um mapa mostrando prédios e apartamentos onde já houve infestação, além de estatística dos bairros mais "perigosos",  fotos de impacto e relatos minuciosos. Resultado: estava instalada a paranoia.

A minha noite parecia inspirada na música "A Festa dos Insetos", cujos versos dizem "torce, retorce, procuro mas não vejo. Não sei se era a pulga ou se era o percevejo". Procurei e não encontrei nada, mas claro que passei o dia seguinte me coçando. Comprei um inseticida específico para o problema. Borrifei no apartamento inteiro. E só fui me convencer de que tudo não passava de paranoia depois de uma semana.

Aprendi a lição? Óbvio que não. Semana passada, percebi duas picadas no meu corpo. E novamente pensei neles, os bed bugs. Tirei o colchão do lugar, troquei a roupa de cama, passei aspirador em todos os cantos, quase fiquei sufocado de tanto inseticida. Fiz nova busca na internet, e encontrei os mesmos resultados assustadores. Liguei para o Brasil, e compartilhei minha suspeita com minha mãe e minha irmã (família unida, paranoia unida).

Elas tentaram me acalmar, mas só fui sossegar mesmo depois de conversar com uma amiga, também meio neurótica, e que já teve problemas com percevejos. "As picadas estão perto uma da outra?" Não, uma era no lado esquerdo do peito, a outra, no cotovelo direito. "Foram no mesmo dia?" Não, tinham uma semana de distância. "Não deve ser bed bug, mas dorme mais dois dias na cama pra ter certeza. Se não for picado, está tudo ok."

Agora, quatro dias depois (óbvio que iria esperar mais do que o recomendado), posso voltar a dormir tranquilo.  Sei que na minha casa eles não estão. Mas não paro de pensar que os temidos insetos continuam lá fora, espalhados pela cidade. Na companhia de ratos! Ah, os ratos... Bem, essa paranoia é assunto para outro texto.

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